sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sobre a Vida, a Morte, a Partilha e a Esperança

Primeira semana de trabalho concluída. Estou de rastos, mas estou a gostar muito do trabalho que estou a fazer, e grande parte deste facto está relacionado com as pessoas que me rodeiam no escritório. A forma como as pessoas que nos rodeiam se relacionam e nos tratam é fulcral no nosso bem estar. Hoje saí sozinha para almoçar. Fui ao mesmo sitio todos os dias da semana. Como fui almoçar mais tarde, quando lá cheguei, tive de ficar à espera de mesa e, enquanto esperava, chegou uma senhora de 80 e muitos anos que se movia com dificuldade com a filha de 40 tal anos para almoçar que esperavam mesa depois de mim. Quando o senhor me arranjou uma mesa, disse a estas senhoras que se quisessem se podiam sentar comigo. Enquanto eu almoçava uma sopa de peixe (que já não consegui comer o prato principal tal era a sua robustez), ia conversando com elas temas triviais. Hei-se-não-quando peço ao empregado para pagar e a senhora  mais nova se oferece para me pagar o almoço pela minha simpatia e disponibilidade (não deixei claro está) e disse-lhe que aquele almoço tinha sido um prazer. Deixou-me a pensar no individualismo em que vivemos todos os dias... é triste. Gosto de não ser assim e de ter a capacidade de pensar no outro.
ATENÇÃO - Vem um texto grande, se não tiver paciência, basta ler a frase no final deste post que resume o que quero transmitir. 
Como muitos sabem, desde Janeiro que vou ao hospital ver o pai do R. Nestes 3 meses, passaram na minha vida algumas famílias (familiares do senhor da cama do lado) e todos os seus receios, lágrimas, e aflições. Começou um senhor do qual não me lembro do nome que tinha uma doença raríssima que lhe dava dores alucinantes. Era casado e tinha 2 filhas. Toda a família era "alternativa" - tinham cerejas e cupcakes tatuados e piercings. Muitas foram as vezes que vi as lágrimas a escorrer pela cara. O 2º companheiro de quarto era o  Zé que tinha tuberculose óssea e que apesar de eu lá ir diariamente, nunca lhe vi nenhuma visita, mas os sumos, águas e bolachas apareciam em cima da sua mesa de cabeceira, pelo que deduzo que lá iria alguém. Um rapaz altíssimo e que depois de ter tido alta, voltou ao hospital para fazer uma visita ao pai do R. O 3º rapaz companheiro de quarto era um miúdo angolano de 16 anos chamado Silvestre que desde pequeno tinha infecções respiratórias e que queria ser arquitecto. Enquanto estava internado, pedia à mãe que com muitas dificuldades monetárias se deslocava ao hospital, para lhe levar os livros para que pudesse ir estudando. O 4º - Sr. Fernando - de 80 e muitos anos, estava internado porque lhe descobriram que tinha um pulmão muito pequeno e tinha desenvolvido uma infecção respiratória grave. A mulher ia lá vê-lo todos os dias e levava-lhe um iogurte de colher fresco que era praticamente o que ele comia o dia todo. A mulher tinha  prai 1,50 metros e era gordinha. Passava a visita inteira a falar da família que tinha morrido, explicando ao mínimo pormenor a doença, o sofrimento, e o ultimo suspiro. Depois, veio o Sr. António. O Sr António, tinha a filha e a neta todos os dias à tarde ao pé dele. O cérebro dele começou a falhar, e já não reagia. A filha (de 50 e muitos anos) cada vez que me via, aproximava-se com uma necessidade intensa e desesperada de puder falar comigo. Ontem, depois de na ultima semana o pai se ter degradado de forma drástica, eu saí do quarto e ela veio atrás de mim. Quis falar da angustia que sentia em perder o pai, das ultimas palavras que o pai disse antes do cérebro se apagar mas o coração continuar a bater, quis ligar-se a mim. Hoje de manhã tive a triste noticia de que morreu. É triste, mas sabem que mais? Cruzam-se pessoas incríveis nas nossas vidas, quer seja pela sua simplicidade ou pelas pequenas grandes lições de vida que nos dão e cada vez mais penso que A Vida, a Morte, a Partilha e a Esperança, são os principais pilares da nossa essência... 

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